Em elaboração....
Fazenda Sâo Tomé - Araras, SP
Extinta fazenda histórica de Araras, SP que pertenceu a Lourenço Dias, um humanista e abolicionista que muito contribuiu para a libertação dos escravos, uma vergonha que assolou nosso amado Brasil. Nesta fazenda se passou momentos históricos de suas lutas pela liberdade e dignidade da pessoa humana. Um homem à frente de seu tempo que deve ser reverenciado por exemplificar a luta pela fraternidade humana na prática de sua conduta.
sábado, 23 de janeiro de 2021
sábado, 7 de outubro de 2017
A historia de uma nascente!
Águas de São Tomé...
Araras, SP - 2010 - 150 anos atrás...
Esta é uma historia verdadeira, escrita por que vivenciou grande parte dos acontecimentos aqui relatados.
Araras, SP - 2010 - 150 anos atrás...
Esta é uma historia verdadeira, escrita por que vivenciou grande parte dos acontecimentos aqui relatados.
Em um pequeno vale de mata fechada, onde o alarido dos pássaros, e o farfalhar das folhas ao vento
um som borbulhante também se faz ouvir, denunciando por ali um olho d’água de médio porte.
O liquido que dali brota cristalino e límpido, pronto e puro, verdadeira dádiva da natureza, fonte de vida para toda a população de pequenos animais que por ali habitam.
Prosseguindo em pequeno riacho serpenteando pela mata fechada em pequenas cascatas vais se avolumando pelo acréssimo de outras pequenas nascentes, e por fim deságua em ribeirão mais avantajado somando-se, integrando-se, e já poderoso, rumo ao seu destino maior, o oceano.
O tempo em sua marcha vai acumulando de novas atividades aquele pequeno habitat, que se torna
uma paragem de boas vindas para homens que ali vislumbram uma boa oportunidade para uma propriedade de agricultores, que ali encontram boas condições de sobrevivência.
Lentamente ao correr dos anos, surgem ao derredor plantações e pastagens, onde aos poucos vai se
formando já com proprietários mais organizados uma fazenda, ainda rústica e simples, porem com
boas e férteis terras, melhorias vão surgindo mudando a paisagem local, mas ainda preservando
uma característica sertaneja.
Nesta época, na região a mão de obra escrava infelizmente era tida como normal e costumeira e também por ali se fazia uso desta vergonhosa atividade, que ainda hoje nos envergonham.
A fazenda prospera com a boa fase cafeeira, e extensas plantações cobrem muitos alqueires da propriedade. Também se plantam arroz, milho, frutas, se criam gados, que mais e mais se tornam
necessárias mão de obras, e novos moradores vão se fixando neste recanto rural.
Neste tempo todo, sempre prevaleceu para os proprietários e moradores, uma sabedoria nata de que tudo por ali se mantinha em harmonia, devido aquela nascente mãe e suas pequena afilhadas que forneciam gratuitamente o liquido imprescindível para o ser humano, a água!
O sertanejo sempre soube da importância do meio ambiente preservado, pois nada mais se integra tão bem com a natureza do que o homem simples do sertão. Assim sempre se preservou o
local da nascente com carinho, respeito e gratidão por sua importância para a sobrevivência de todos, homens e animais e natureza.
Com o fim da escravidão, houve necessidade de aporte de mão de obra remunerada, isto é, recebia
um rendimento em troca de seu trabalho.
Houve então modificações nos meios de produção rural, com famílias de trabalhadores instaladas
já em melhores condições, mas ainda assim rudimentares, em casas dispostas em colônias em casas
simples, muitas delas geminadas em pares, abastecidas por água de nascentes, diretamente e sem
nenhum tratamento.
O sistema de higiene corporal se resumia em banhos no riacho para os homens e crianças,ou em bacias dentro das residências para as mulheres adultas.
As necessidades fisiológicas eram feitas sorrateiramente nos “matinhos” fartamente disponíveis
no local. O fato pitoresco era que as pessoas escolhia determinados locais, e ali sempre fazia suas necessidades, sem ser importunados, a não ser pelas galinhas e outros indivíduos na espera para se
beneficiar dos resíduos resultantes. Era a reciclagem completa, gratuita e eficiente da época.
Nos vastos cafezais da propriedade, onde o trabalho braçal era o único meio disponível, se fazia necessário grande numero de trabalhadores, e por este motivo as famílias numerosas em componentes ativos era disputadas pelos fazendeiros, sendo que casais com media de 8 a 12 filhos
eram os mais cobiçados.
Com falta de mão de obra local, houve o empenho dos governantes em estimular a vinda de imigrantes estrangeiros para nosso país, sendo que no estado se São Paulo, com a cultura cafeeira bem desenvolvida, imigrantes italianos eram requisitados como colonos, e suas famílias
estimuladas em prover mão de obra farta para o trabalho nas fazendas de café da região.
Por volta de 1920 a fazenda era de propriedade de André Ulson Junior, genro e herdeiro de
Lourenço Dias. Casado com sua filha Rosa deu continuidade às melhorias da Fazenda São Tomé,
fazendo construir em local á jusante da nascente uma moderna sede, com linda casa avarandada
que lhe servia de residência, cercada por exuberante pomar de frutas tropicais, a casa do administrador ao lado, e próximo às melhorias e utilidades da fazenda.
Homem á frente de sua época, André Ulson fez construir o que de melhor e mais moderno na ocasião, como o paiol o curral, a pocilga, a tulha de café, o terreiro de secagem, a casa de máquinas para beneficiar café, arroz, milho etc, e tudo isso moderno e funcional, coisa rara na época.
A colônia de casas geminadas de cerca de 14 construções para 28 famílias, eram simples, todas de alvenaria e chão batido, isto é sem piso de qualquer tipo instalado. Para não fazer poeira quando se varria a casa, molhava-se o solo com regador antes. Como o solo era bem compactado e nivelado
não era tão mal como pode parecer.
A igrejinha dedicada a Santo Antonio, encimava o declive da colônia, e no ultima casa perto da nascente, nasceu e se criou este que escreve estes relatos. A proximidade com a nascente foi um
dos fatos do relacionamento meu com aquela dádiva da natureza.
Meu pai foi designado para tomar conta do local onde era captada a água que seguia para a cidade
indo periodicamente fazer limpezas, e desobstruir o acesso. Eu com 3 ou 4 anos o acompanhava
então, vendo fascinado meu pai entrar na caixa, para mim gigantesca, executando aquele trabalho,
que meu pai dizia era feito para a “Câmara”. Somente muitos anos depois vim a descobrir que a mesma era a Câmara de Vereadores, que tinha na época funções executivas.
O córrego oriundo da nascente descia em declive distanciando-se da colônia, e não seguia de forma a abastecer toda a colônia, devido às características do local, Lembro-me que foi feito um desvio de parte das águas, com um canal que abastecia até a oitava casa da colônia, onde se separava, indo se
encontrar com seu leito normal mais abaixo.
No trecho em que o desvio alimentava as casas, eram construídos pequenos acessos onde as mulheres lavavam as roupas e utensílios da casa, e também se lavavam as “pontas” como se diziam então para os pés, mãos e rosto.
A água para beber e cozinhar era colhida perto da nascente e armazenada em vasilhas nas casas.
Deste modo as casas servidas pelo desvio eram privilegiadas por estarem melhor servidas pela água praticamente na porta de casa. Um “luxo”!
No restante das casas, era preciso descer uma ladeira, onde o “patrão” fez construir um longo encanamento, que captava água de uma outra nascente que alimentava também o córrego principal.
Era um encanamento de metal de uma três polegadas onde uma límpida água jorrava continuamente, água esta própria para consumo, fresca e potável.
Um pequeno lago se formava no local, onde se instalavam varias taboas de lavar roupas e varais e quaradores para alvejar e secar as mesmas.
Eram onde as mulheres se reuniam, cantavam, faziam fofocas e sabiam das novidades dos patrões.
Por perto a garotada mais nova brincavam sem perigo vigiados pelas mães.
A vida em uma colônia de fazenda, principalmente para a criançada, e cheia de bons momentos,
pois a liberdade de poder correr, se esconder, fazer estripulias, pequenas malandragens, etc, fazem o dia ficar repleto de atividades.
A noite os pequenos podiam brincar, ou também ouvir os “causos” contados pelos mais velhos nas rodinhas de conversa que se formavam em frente das casas.
Essa foi minha saudosa infância vivida nessa histórica fazenda, e nesse testemunho para o futuro de quem viveu tudo que foi aqui relatado.
Em memória de toda minha família que ali habitou por muitos anos...
Gilberto Pasqualotto - Nascido na fazenda em 18/02/1944
Filiação de Emilio Pasqualotto e Maria Paiola Pasqualotto.
Assinar:
Comentários (Atom)












